Tudo vai, tudo volta;
eternamente gira a roda do ser. Tudo morre, tudo refloresce, eternamente
transcorre o ano do ser.
Tudo se desfaz, tudo é refeito; eternamente constrói-se a mesma casa do ser.
Tudo se desfaz, tudo é refeito; eternamente constrói-se a mesma casa do ser.
Tudo se separa, tudo se
volta a encontrar; eternamente fiel a si mesmo permanece o anel do ser.
Em cada instante começa o
ser; em torno de todo o "aqui" rola a bola "acolá".
O meio está em toda parte.
Curvo é o caminho da
eternidade".
(Friedrich
Nietzsche, Assim falou Zaratustra)
Nas
expressões das verdades interiores (de cada ser pensante) que nos atropelam por
aí, quantas vezes não nos pegamos pensando sobre a vontade que dá de,
inadvertidamente, dizer também o que pensamos ou sentimos ou as duas coisas, a
partir de nossas próprias perspectivas, sobre elas. Diante de tais
situações que vão despencando, aqui e ali, pode ser que baste um olhar mais
atento a nossa volta para entender que verdades são incontestáveis, uma vez que
cada um tem a sua – e certamente a receita jamais se repete – a forma
provavelmente é lançada na fogueira a cada criação, e os desígnios são apenas
as assimilações de como a vida um dia se projetou para cada um, pautada tão
somente em textos e contextos para lá de subjetivos. Porque, afinal, origens e
fins acontecem todos os dias!
Só
podemos então falar por nós mesmos... e ainda assim esta fala já não será mais
a mesma coisa infinitésimos de segundos depois. Até a imagem que selecionamos e
captamos já não é a mesma ao ser refletida em nosso olhar. Nada é estático, nada
permanece, nada se engessa... podemos apenas supor o que pode ser. Ou o que
desejamos que seja!
Que
possa a jornada ser uma reflexão, eterna a todos que se dispuserem a tal, mas
ainda assim, mesmo para estes, que não sejam concedidos limites, se assim o
desejarem. Que esta não se paute em regras inóspitas e inúteis, como se
conhecimento fosse um decreto e como se leis alheias e desavisadas orientassem
o sagrado movimento de dedos a folhear entremeios de novas perspectivas.
Que
horizontes possam ser vastos, na medida em que a axiologia de cada momento o
permitir e que os caros juízos não consigam interferir e até se calem por
breves instantes, pois para alçar voos será preciso soltar grilhões, fazer
concessões, abrir fossos e aquietar mentes.
Que
se busquem simples ou complexas verdades, se estas importarem à percepção do
juízo de valor de cada um e que sejam adicionadas se ainda continuar a valer a
pena... a vida é mutante, assim como os pensamentos e os sentimentos que a
organizam, e o que tanto valia ontem pode nada mais significar presente ou
futuro próximo, afinal muito muda no decorrer do caminho e novas e inusitadas verdades
se revelem aos olhos, especialmente àqueles que nunca se fecham.
Que
encontros afins aconteçam, e que sejam infinitos em suas emanações e de todas
as formas e naturezas, para que atendam às demandas fluídicas, afetivas,
racionais de cada êxtase de alma. Mas que os diversos e incoerentes também
partilhem a beleza da diversidade de suas entranhas e nos façam entender que
nem sempre apenas os semelhantes se atraem.
Que
alegrias e tristezas transformem rostos que a imobilidade condenou, pois que
não há nada mais insípido que alguém que não sofreu por amor ou por qualquer
outra coisa, que não sorriu ou chorou, que não lutou ou não se martirizou,
mesmo que por inutilidades suspensas. Àqueles que não podem fazer transparecer,
que seu coração se agite, ainda que por uma rala camada de algo que nem mesmo
possa ser identificado. E que a insanidade a todos instigue e persiga, para que
não esqueçam de que os pés resvalam entre os tênues limites das margens
existenciais e se lembrem de que correr riscos às vezes vale a pena.
Que
o encanto de perceber nuances nos envolva e nos conceda o que há de mais
essencial, de tudo que se desdobra da fonte que jorra do âmago de seres que se
permitem olhar através da penumbra vaga que esconde prazeres e sonhos, dores e
devaneios. Pois pela poesia as comportas se abrem como vazadouros impossíveis
de serem contidos. Assim reinventamos o que ainda não se vislumbrou ou que não
foi revelado e seres encantados se revelam, comunicando o que jamais seria
possível sem a extrema beleza da sensibilidade.
Que
nos seja possível aceitar as crenças ou a ausência delas e que, neste limiar,
não haja debates vãos que não conseguem se dar conta da profundidade de seus
próprios receios, alguns a tal ponto de não perceber que muitos deles são tão
rasos que os pés facilmente tocariam o chão e, assim, poderiam se salvar pela
simples calma de seus domínios agitados.
Pois
talvez sejamos como náufragos nos debatendo no oceano solitário em que
insistimos em mergulhar. Porque o que
quer que haja nos limites de qualquer imaginável dimensão, de fato já o é...
ou, se não for, não o será por decisão ou perspectiva de quem quer que seja, o
que nos dá a liberdade de trânsito entre ideias e sentimentos, desde que se
entenda que está estabelecido que esta liberdade valha para todos. E,
consequentemente, respeito idem!
Que
a liberdade caminhe silenciosa pelas matas densas das surpresas inseridas em
cada raiz que se planta e se ramifica. E que não se esconda ou não seja
tolhida, para que não se perca uma só folha e para que suas sementes sejam
espalhadas ao vento imprevisível da vontade de realmente ser.
Então,
enquanto a vida segue seu rumo independente, solitariamente nos adaptamos ao
nosso aquário existencial como habitantes indecisos de nosso papel, apenas
exercendo o direito – concedido pela dádiva da vida, entendida como convier,
vinda de onde vier, alcançando seja lá o que for – de expressão, de busca e de
recolhimento, de transcendência e de luta, de gritos e ausências, de amor e
perversidade, de sim e de não, de luz e do que ofusca, de trevas e do que
apenas não se deixa revelar. Enfim, direitos de ser ou de não ser... pouco
importa, pois que a revelação dos porquês sempre será algo a investigar, algo
que estará além da compreensão... e além é justamente seu lugar, para que nunca
realmente a alcancemos, pois que olhar pela fresta da indefinição é o que nos
aguça a certeza de que sempre seremos.
Luana Tavares (agosto/2012)
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