Um
conto... uma lenda... um arquétipo feminino materializado em forma de história
de um amor que supera o tempo, os limites da vida e da morte, transcende
emoções e transporta entre mundos a existência. Uma interação amorosa, visceral
e profunda, selada pela força sobrenatural que governa o mundo e todas as
fronteiras.
O
encontro de seres distintos – um, espiritual, racional e masculino com armas
malignas; o outro, sensorial e feminino, com fluidez da subjetividade que
impregna e transforma tudo que toca.
Dois
seres que, na força do amor, do poder e da paixão, revelam o avesso do sentir e
a mácula do desejo não possuído, da incompletude amorosa, da ânsia dos
contrastes de amar sem ser amado, do desejo contido que implode no gozo solitário
que jamais sacia, em ao pertencer sem ser pertencido ou ao amar sem ser amado.
Lilith, forjada no mundo como a primeira
mulher, surgida da sedução cósmica, que encanta não somente por sua beleza, mas
por seus aromas e fluidos. Mulher feita de magia e adorada por entidades
malignas, criada à imagem e semelhança do homem, mas que se deixou seduzir
pelos encantos da paixão dos demônios e de Samael, que lhe revelou todos os
segredos do sexo e da luxúria. Ela mesma talvez apenas uma mulher na
expectativa de um amor profundo, que não lhe negasse a manifestação de sua
inteligência e vivacidade.
Ela
desperta o lado improvável do amor sereno, que flui racional, que acalma e
caminha junto no lado obscuro da pura paixão, abraçando demônios que vibram na
mesma sintonia que qualquer ser em busca de plenitude. Um êxtase de almas
livres, que encantam e vivem a mais profunda história de paixão do Oriente. Uma
história de amor que em nossos devaneios de emoções mais profundos, imaginamos liberta
na atemporalidade da imaginação.
Almas
livres atravessam universos contraditórios e incongruentes. Tudo em nome do que
acreditam. E elas acreditam nas essências sublimes do amor e no vigor da vida
que pulsa e forja possibilidades que o destino não previu. Ultrapassam limites,
pois a paixão que motiva e destila emoção, instigando devires alucinados, não
suportaria ser confinada. Seus intervalos sublimam e bailam para além do que
cogitam ser e quase cegam quem atravessa seu caminho. Mas não porque intencionam o cegar, e sim porque
a força avassaladora dos seus padrões e sutilezas existenciais não perdoa os
que hesitam. A inalação que as sustenta é tão provocante e inebriante quanto o
canto das sereias desnudas que as ondas insistem em fazer mergulhar, deliciando
a imaginação dos que se deixam levar.
Almas
livres são subjugadas apenas ao que anseiam com ardor, ao que acreditam, ao que
lhes escapa ao controle... exatamente por ser incontrolável. Pelo que baila e
converge em brilho em suas entranhas rasgadas por não desistirem e por
desafiarem seus destinos supostamente traçados.
São
como contrastes de realidades que mal se suportam ou se tocam, mas que não
conseguem se diferenciar nas entranhas dos seus sentimentos loucos e profanos,
intensos e sagrados. Fêmeas guerreiras que se lançam em busca de essências, tal
qual fontes de um esplendor quase inimaginável. Seres imaginários que podem
tudo, até mesmo amanhecer na luz diáfana e primeira da vida a perpetuar seus
sonhos, esperanças, luzes e devaneios, perfurando a eternidade como lanças em
chamas a rasgar as almas que desejam habitar.
Através
de um abraço improvável e de um afeto que transborda o surreal desejo de
penetrar corpos de outros ventos e ou aragens, Lilith se lança, impetuosa e
enigmática, ao encontro de sua vontade, desafiando a ordem dos tempos. Busca
acordar e retomar o que lhe pertence, fazer valer seu direito de ser única,
intensa e dona de seus sonhos, ainda que sombrios. Seus instintos determinam
apocalipses, mas se escondem nas profundezas ferozes de seus próprios
pensamentos.
Força
e delicadeza se misturam, como tintas de matizes ao mesmo tempo vibrantes e
suaves. Não se prende aos desígnios e enlaça seus demônios carinhosamente, como
se pudesse carregar em si toda a força da paixão que os domina. Revestida de
sua sensualidade, despojada de pudores, ela se torna capaz de desafiar as leis
que criaram mundos e instituíram dogmas, ao revelar a eternidade a seus pés.
Em
plena mutação, reconhece-se seduzida por seus próprios instintos, mas
transforma-se e entrega-se à sua essência, inundando de cumplicidade e segredos
o seu escolhido. Ao penetrar as entranhas ocultas pelas ondas de cor e prazer
que os revestem, consolam-se da dor e da estranheza de se verem perdidos entre
os paralelos confusos da razão. Porém, ao se entregarem, libertam o que há de
mais surpreendente e então se fundem pelo tempo e se perdem em brumas distantes
de dúvidas e temores. São assim ornados da sublime fragilidade, forjando
sentimentos da mais pura substância, em contrapontos entre o bem e o mal, entre
a luz e as trevas. Desta fusão
incandescente surge o mais pleno amor, anseio de gozo e desejo. Na fluidez de
suas lutas internas, consolidam a força suprema da paixão e desintegram ilusões
nas sutis diferenças que os atormentam, abrindo perspectivas aos mortais que
ainda engatinham na compreensão do sentido que os movem.
Alba
Bonotto, Luana Tavares e Sandra Sucupira (setembro/13)
Muito bonito!! Gostei muito dessa parte: "Na fluidez de suas lutas internas, consolidam a força suprema da paixão e desintegram ilusões nas sutis diferenças que os atormentam, abrindo perspectivas aos mortais que ainda engatinham na compreensão do sentido que os movem."
ResponderExcluirOi Vinícius!
ResponderExcluirFeliz que tenha gostado. Foi um prazer escrever em parceria.
E falar sobre mitos dá asas à imaginação!
Abração e volte sempre!
Em plena mutação, reconhece-se seduzida por seus próprios instintos, mas transforma-se e entrega-se à sua essência, inundando de cumplicidade e segredos o seu escolhido. Ao penetrar as entranhas ocultas pelas ondas de cor e prazer que os revestem, consolam-se da dor e da estranheza de se verem perdidos entre os paralelos confusos da razão. Adorei
ResponderExcluirFeliz que tenha gostado... venha visitar a Lua outras vezes!
ExcluirSempre um prazer estar em boa companhia.
Abraços da Lua!
Adorei!!! Tenho muito de Lilith. "Força e delicadeza se misturam, como tintas de matizes ao mesmo tempo vibrantes e suaves. Não se prende aos desígnios e enlaça seus demônios carinhosamente..."
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