Alejandro Jodorowsky
De tudo o
que sou (ou intenciono, imagino, pretendo ser) para o que você é (ou que,
igualmente, intenciona, imagina, pretende ser), existe como que uma teia que
nos envolve, nos enreda e nos impulsiona nos infinitos eventos de relação, em
que interagimos num vai e vem constante de possibilidades e caos. Em muitos
desses eventos, estamos sensorialmente próximos; em muitos, abstratamente
distantes. Eventualmente, nos posicionamos de forma sutil, evasiva, fluida, mas,
ainda assim, não perdemos contato. Este evento, entretanto, pode se dar por
múltiplas e sofisticadas formas de interação, nem sempre reconhecidas ou
estabelecidas em nossa grade de pensamentos e percepções.
De onde
estou, posso fechar os olhos e, de alguma forma, sentir o outro que me
acompanha na jornada da vida, nos caminhos entremeados de incertezas,
estreitezas e amplitudes, nos caminhos singulares em cada instante e em cada
esquina, nos caminhos que se confundem, se entrelaçam e se afastam, como
cadeias de presenças e ausências expressas no caos da vida. Não se enganem,
porém: o caos é repleto de tudo o que se supõe existir…; o caos é a própria
vida e além dela. Nele coexistem as singularidades que transitam pelo éter da
existência e habitam mundos, numa babel resiliente a tudo que a confronta.
Seguimos
inconformados com a inércia, numa busca pelo que se apresenta, pelo que nos
consome. Não hesitamos em esticar as mãos para alcançar aquilo que nem sequer
sabemos ao certo do que se trata. Mas seguimos. E, às vezes, as nossas
singularidades, numa dessas interseções que se cruzam, esbarram em questões que
nos escapam ou em outras singularidades ainda mais singulares, daquelas que nos
obrigam a parar e rever nosso mundo, o que acreditamos e para onde vamos.
Nestes instantes mágicos, a cadeia da vida suspende o tempo, que para, num
contínuo êxtase, para contemplar o vazio repleto de seus próprios significados.
Meu olhar singular se volta na busca do entendimento por esse outro para captar
seus dizeres e anseios, seus temas e discursos. Enfim, não para exatamente
entender o que se passa no outro ser que contemplo, mas para entender o que se
passa em mim, no meu próprio universo.
Na minha
singularidade, me confronto e me conformo com a sua, na busca pelo que nos
proporciona aquele quê de luz, de insight, de magia…, dançando nas nossas
espacialidades invertidas, buscando encontrar o mundo um do outro, sem nos ater
a padrões ou armadilhas, livres para experimentarmos o doce sabor da insensatez
e da loucura ou seja lá do que for. Na realidade (ou fora dela), não há sentido
em cantar canções dissonantes que nos machucam, não há sentido em responder ao
que não nos diz respeito. Aliás, respeito parece ser apenas o que importa nisso
tudo. Respeito a mim, ao outro, ao que sei e ao que não sei; respeito pelo que
quero, desejo, assumo, assim como você; respeito à sua coerência e à minha
incoerência e vice versa; respeito ao que não me diz respeito, ao que não quero
saber e ao que realmente não somos obrigados a tal. O mundo circula e apenas
acompanhamos, com olhares e inquietudes sonhadoras, certos de que não faz muita
diferença para as continuidades existenciais o que sentimos e pensamos.
Só o que
importa é o agora, o olhar e o toque que compartilhamos, da minha singularidade
para a sua. Não importa o tempo que flui, apenas o que trocamos em direção às
nossas emoções e a nossos saberes de existência. Se nos perdermos, saberemos o
caminho de volta. E, se o caos se avolumar à nossa volta, saberemos que, em
algum momento, o mundo parou para nos encontrarmos. E isso basta, talvez pela
eternidade.
Luana
Tavares (março/21)
Prosa poética viva-vivida...
ResponderExcluirQuerido Paulo, agradeço o carinho. Este pequeno texto foi um retorno... fico feliz que tenha me visitado aqui e espero que volte sempre. Grande abraço!
ExcluirBelissimo texto
ResponderExcluirAdorei
Bjs
Oi, tudo bem?
ExcluirSeu nome não aparece para mim, mas estou feliz com sua visita.
Inscreva-se no blog... adoraria que se tornasse um/a 'Amigo/a da Lua'.
Beijos e obrigada!
Querida, Luana! Lindo! Faço coro com o Paulo: "Prosa poética viva-vivida..."
ResponderExcluirBjs!
Val, sua amizade a torna suspeita...rsrs. Agradeço, querida! Beijos da Lua!
ExcluirAdorei! Suas habilidades para se expressar são impressionantes.
ResponderExcluirQuerida, agradeço o carinho. Fico muito feliz com esse retorno. Beijos!
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