Lua

Lua
Moon!

Visitantes do mundo da Lua!!!!

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Tributos


Não há um só dia que eu não pense ou não me lembre dos meus pais.
As recordações vêm acompanhadas de mexidas emoções, como se a lembrança me pausasse o tempo e me permitisse viagens de ternura e saudade, de percepções e nostalgias. A ternura é o que contempla a saudade, a mesma que traduz os incontáveis bons momentos, que ainda pressinto e que me inspiram anseios e melancolias.
Lembro-me fascinada das conversas com meu pai, as mesmas que certamente me incentivaram a gostar tanto de filosofia e que, essencialmente, mantiveram o espírito aberto ao infinito. Meu pai tinha suas próprias e peculiares crenças e idéias. Ele era uma pessoa irresistível; um sábio em cultivar aberturas e dono de um caminho ornado por aromas e serenidades, a embalar diálogos, leituras, música e futebol. Aprendi a gostar de tudo isso com ele.
O mérito de suas andanças me indicou muitos outros horizontes e não tenho problemas em confessar que muitas escolhas foram somente para lhe agradar. Queria saber o que ele sabia; queria enxergar o mundo através dos seus olhos inteligentes e sua unânime docilidade. Não deu muito certo, pois ele sempre se revelou superior em sua humilde condescendência. Uma figura ímpar em sua compreensão do mundo.
Com minha mãe, mulher rígida e forte, que não permitia desvios da linha do trem, aprendi as coisas do cotidiano, a realidade da vida, de tudo o que compõe o outro lado da abstração. Partiu dela a inspiração para um dos meus mais importantes papéis existenciais: ser mãe! Ainda hoje, me pego pensando o que ela faria em determinadas situações, como responderia, como agiria... E cultivo essa lembrança perpetuando sua importância.
Ela também me ajudou a compor minhas crenças, mesmo que por vezes às avessas, e a estar pronta para o mundo, compreendendo o quanto a reflexão é necessária. Com ela, tive incomparáveis momentos de alegrias, de como ser menina e me transformar em mulher. Inesquecíveis lanchinhos nos quais nos divertíamos e fazíamos a vida valer a pena em sua simplicidade, além de direcionar meu olhar ao próximo, mostrando sua proximidade e o quanto podemos fazer para abreviar as dores humanas. Ela possuía uma bondade nata.
Sim, as divagações correm soltas...
Mas volto ao meu presente e procuro retroceder o filme, quadro a quadro, numa eterna tentativa de entender o momento. Não sei bem o porquê. Que diferença faz, afinal, tanto entendimento? Há instantes em que quase acredito haver um destino, que nos posiciona ao seu bel prazer, depois de várias jogadas de bolinhas ao acaso.
Mas são só instantes... geralmente aqueles em que a tarefa de perpetuar a história, ainda que seja somente a própria, constitui tarefa árdua. Professo a teoria de que as primaveras, os verões, outonos e invernos nos constituem e que seu legado nos dimensiona tanto quanto o que validamos a cada experiência.
E convenhamos que reconstituir momentos é uma ação quase impossível, uma vez que são frutos também de abstrações e delírios, nem sempre de fatos e construções. O contexto vai muito além do que supomos, e entender essa perspectiva vai além da nossa vontade somente. É preciso garra e vontade... é preciso determinação e paciência... é preciso não somente olhar o espelho, mas através, acima e além dele.
As histórias se constroem sem que se tenha uma percepção muito clara delas. Quando nos aproximamos... o tempo passou. E o tempo se perpetua e as gerações assumem o que antes apenas observavam de longe. O que fica é a lembrança do que nos impregna com o que somos. Esta história tem nome e sobrenome.
Não sei como será o futuro, qualquer que seja... não há como saber. Mas sei como me construí, como minhas bases existenciais aconteceram. Sei dos meus pais e do legado que me deixaram. É uma saudade que não se cansa de bater à minha porta, de forma insistente, mas que abro com prazer.
Uma vontade gostosa me invade e me acalma: a de que um dia, em algum lugar, espero encontrá-los. Será um instante de abraço e reverência!

Luana Tavares

7 comentários:

  1. Sim... Hoje, também, acordei com uma enorme saudade, com uma vontade insaciável de beijar e abraçar meu pai! Também espero que um dia possa voltar a abraça-lo, assim como vc deseja fazer com os seus pai, Lu.

    Beijos,

    Mirella

    ResponderExcluir
  2. Luana, também compartilho esses sentimentos.Meus pais se fazem presente sempre.
    Hoje, particularmente, penso em meu pai. Lembro de suas palavras, das suas expressões, dos seus gestos. São sentimentos de admiração, gratidão e muita, muita saudade.
    Beijos, minha amiga!

    ResponderExcluir
  3. Lu, suave, suave como uma brisa, foi assim que me senti depois que li seu depoimento sobre seus pais.
    Essa Luana de hoje, realmente é um reflexo dessa criação tão terna e amorosa que você pode ter o privilégio de ter.
    Um beijo enorme!!! amei esse cantinho de relaxamento. beijos.

    ResponderExcluir
  4. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  5. Oi Luana, belo texto, obrigado! Posso tentar abrir aqui um bate-papo? É que no final, quando você falou "Uma vontade gostosa me invade e me acalma: a de que um dia, em algum lugar, espero encontrá-los.", me fez lembrar que na FC trabalhamos com duas verdades, né?! A subjetiva e a convencionada: "Nossos entes queridos que já partiram estão lá e nós aqui"... Já pensou se isso não poderia ser uma verdade convencionada que a gente abraça como a Verdade? O que são nossos 5 sentidos diante do infinito? A ciência fala que o que chamamos de matéria equivale a 5% do universo conhecido... Livros de medicina dizem que temos mais de 20 sentidos... Devem existir tantas formas ainda desconhecidas de fazer interseção com tudo... Existirá um dentro de nós e um fora de nós? Dizem que nossa memória pode estar até fora do que chamamos corpo... E o tempo? Nossa, o que é o tempo? Talvez a gente não precise esperar tanto para abraçar quem não está mais a nossa vista... Um ótimo dia para você!

    ResponderExcluir
  6. Olá Luana,

    Repito o que vc disse e sente: "Não há um só dia que eu não pense ou não me lembre dos meus pais." Meu pai se foi em março deste ano. È uma saudade que fica. Horas acentua mais e fico perdida nas lembranças tão ternas que me emociona. Orações que vinham dele por nós quando na infância, adoentadas, ou simplesmente por cuidado. A última, hospitalado, com alzeimer, ele pedia: "Deus proteja meus filhos, livra-os do mal." Me emociono ao lembrar. Quanto cuidado, quanto amor ele tinha!!!
    Seus ensinamentos através de exemplos no dia a dia, principalmente em meu caráter, são para sempre...

    Gostei de pensar sobre o tempo que "a gente não precise esperar tanto para abraçar quem não está mais a nossa vista" como colocado...

    Veio de encontro ao sonho que tive com ele semana passada: Eu telefonei para ele como se ele estivesse em viagem e disse: estamos com saudades!! Ele me respondeu:"Falta pouco..." e o meu sentimento era que íamos nos ver logo.... "O que é o tempo, não é?" Foge ao nosso entendimento hoje, mas amanhã poderemos compreender..
    Bjs Edna

    ResponderExcluir
  7. Amiga da alma,
    Voltei no tempo e refleti muito lendo o seu texto. Percebi o quanto pode-se ter uma "saudade Feliz", até então achava saudade triste. Obrigada por me fazer pensar de forma diferente!!!
    Beijos
    Val

    ResponderExcluir