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quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Lilith

    Luiz Royo



Um conto... uma lenda... um arquétipo feminino materializado em forma de história de um amor que supera o tempo, os limites da vida e da morte, transcende emoções e transporta entre mundos a existência. Uma interação amorosa, visceral e profunda, selada pela força sobrenatural que governa o mundo e todas as fronteiras.

O encontro de seres distintos – um, espiritual, racional e masculino com armas malignas; o outro, sensorial e feminino, com fluidez da subjetividade que impregna e transforma tudo que toca.

Dois seres que, na força do amor, do poder e da paixão, revelam o avesso do sentir e a mácula do desejo não possuído, da incompletude amorosa, da ânsia dos contrastes de amar sem ser amado, do desejo contido que implode no gozo solitário que jamais sacia, em ao pertencer sem ser pertencido ou ao amar sem ser amado. 

 Lilith, forjada no mundo como a primeira mulher, surgida da sedução cósmica, que encanta não somente por sua beleza, mas por seus aromas e fluidos. Mulher feita de magia e adorada por entidades malignas, criada à imagem e semelhança do homem, mas que se deixou seduzir pelos encantos da paixão dos demônios e de Samael, que lhe revelou todos os segredos do sexo e da luxúria. Ela mesma talvez apenas uma mulher na expectativa de um amor profundo, que não lhe negasse a manifestação de sua inteligência e vivacidade.

Ela desperta o lado improvável do amor sereno, que flui racional, que acalma e caminha junto no lado obscuro da pura paixão, abraçando demônios que vibram na mesma sintonia que qualquer ser em busca de plenitude. Um êxtase de almas livres, que encantam e vivem a mais profunda história de paixão do Oriente. Uma história de amor que em nossos devaneios de emoções mais profundos, imaginamos liberta na atemporalidade da imaginação.


Almas livres atravessam universos contraditórios e incongruentes. Tudo em nome do que acreditam. E elas acreditam nas essências sublimes do amor e no vigor da vida que pulsa e forja possibilidades que o destino não previu. Ultrapassam limites, pois a paixão que motiva e destila emoção, instigando devires alucinados, não suportaria ser confinada. Seus intervalos sublimam e bailam para além do que cogitam ser e quase cegam quem atravessa seu caminho.  Mas não porque intencionam o cegar, e sim porque a força avassaladora dos seus padrões e sutilezas existenciais não perdoa os que hesitam. A inalação que as sustenta é tão provocante e inebriante quanto o canto das sereias desnudas que as ondas insistem em fazer mergulhar, deliciando a imaginação dos que se deixam levar.

Almas livres são subjugadas apenas ao que anseiam com ardor, ao que acreditam, ao que lhes escapa ao controle... exatamente por ser incontrolável. Pelo que baila e converge em brilho em suas entranhas rasgadas por não desistirem e por desafiarem seus destinos supostamente traçados.

São como contrastes de realidades que mal se suportam ou se tocam, mas que não conseguem se diferenciar nas entranhas dos seus sentimentos loucos e profanos, intensos e sagrados. Fêmeas guerreiras que se lançam em busca de essências, tal qual fontes de um esplendor quase inimaginável. Seres imaginários que podem tudo, até mesmo amanhecer na luz diáfana e primeira da vida a perpetuar seus sonhos, esperanças, luzes e devaneios, perfurando a eternidade como lanças em chamas a rasgar as almas que desejam habitar.


Através de um abraço improvável e de um afeto que transborda o surreal desejo de penetrar corpos de outros ventos e ou aragens, Lilith se lança, impetuosa e enigmática, ao encontro de sua vontade, desafiando a ordem dos tempos. Busca acordar e retomar o que lhe pertence, fazer valer seu direito de ser única, intensa e dona de seus sonhos, ainda que sombrios. Seus instintos determinam apocalipses, mas se escondem nas profundezas ferozes de seus próprios pensamentos.

Força e delicadeza se misturam, como tintas de matizes ao mesmo tempo vibrantes e suaves. Não se prende aos desígnios e enlaça seus demônios carinhosamente, como se pudesse carregar em si toda a força da paixão que os domina. Revestida de sua sensualidade, despojada de pudores, ela se torna capaz de desafiar as leis que criaram mundos e instituíram dogmas, ao revelar a eternidade a seus pés.

Em plena mutação, reconhece-se seduzida por seus próprios instintos, mas transforma-se e entrega-se à sua essência, inundando de cumplicidade e segredos o seu escolhido. Ao penetrar as entranhas ocultas pelas ondas de cor e prazer que os revestem, consolam-se da dor e da estranheza de se verem perdidos entre os paralelos confusos da razão. Porém, ao se entregarem, libertam o que há de mais surpreendente e então se fundem pelo tempo e se perdem em brumas distantes de dúvidas e temores. São assim ornados da sublime fragilidade, forjando sentimentos da mais pura substância, em contrapontos entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas.  Desta fusão incandescente surge o mais pleno amor, anseio de gozo e desejo. Na fluidez de suas lutas internas, consolidam a força suprema da paixão e desintegram ilusões nas sutis diferenças que os atormentam, abrindo perspectivas aos mortais que ainda engatinham na compreensão do sentido que os movem.

Alba Bonotto, Luana Tavares e Sandra Sucupira (setembro/13)


5 comentários:

  1. Muito bonito!! Gostei muito dessa parte: "Na fluidez de suas lutas internas, consolidam a força suprema da paixão e desintegram ilusões nas sutis diferenças que os atormentam, abrindo perspectivas aos mortais que ainda engatinham na compreensão do sentido que os movem."

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  2. Oi Vinícius!
    Feliz que tenha gostado. Foi um prazer escrever em parceria.
    E falar sobre mitos dá asas à imaginação!
    Abração e volte sempre!

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  3. Em plena mutação, reconhece-se seduzida por seus próprios instintos, mas transforma-se e entrega-se à sua essência, inundando de cumplicidade e segredos o seu escolhido. Ao penetrar as entranhas ocultas pelas ondas de cor e prazer que os revestem, consolam-se da dor e da estranheza de se verem perdidos entre os paralelos confusos da razão. Adorei

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    1. Feliz que tenha gostado... venha visitar a Lua outras vezes!
      Sempre um prazer estar em boa companhia.
      Abraços da Lua!

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  4. Adorei!!! Tenho muito de Lilith. "Força e delicadeza se misturam, como tintas de matizes ao mesmo tempo vibrantes e suaves. Não se prende aos desígnios e enlaça seus demônios carinhosamente..."

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