“O mundo é formado não apenas
pelo que já existe, mas pelo que pode efetivamente existir”
(Milton Santos)
Nos nasceres e ocasos, percebemos o tempo, o vento, o cotidiano e tudo o que nos aquece ou nos esfria. Percebemos o mundo girar e caminhar em direção ao que não importa, pois ninguém nos pergunta se queremos ir ou não. Tal como o olhar do pescador que se perde no horizonte e cumpre seu destino desvendando o improvável – apenas pelo sentir da serena brisa na face ou pelo tremular da onda que vem ao longe – também somos impelidos aos dias e noites, como marionetes que indagam e que se encantam, sem saber exatamente pelo que. E assim, da mesma forma que o pescador pressente as respostas, mas não interfere, apenas observamos e executamos nossa parte, na rede quase eterna que mal começamos a vislumbrar.
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A adversidade, a surpresa e a dúvida são partes da nossa condição de existir. Não sobreviveríamos sem elas, aliás, foi exatamente assim que alcançamos o atual estágio, ainda que de seres que continuam a rastejar em busca de dignidade. Tais condições demandam, entretanto, outra preocupação que não compete apenas com a perpetuação da sobrevivência, mas que implica diretamente em tudo o que nos dispomos para essencialmente continuar navegando.
Deveria haver uma percepção de que estamos expostos, mais do que podemos entender, ao ciclo involuntário do processo existencial, àquele que não se preocupa se vamos dar respostas, mas que simplesmente se acomoda a toda e qualquer realidade que se apresente. Não importa as perguntas que façamos, parece existir uma continuidade, uma insistência, para que os movimentos prossigam.
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Então prosseguimos, inexoravelmente, mesmo que não muito cientes da nossa cumplicidade, mesmo que hesitantes diante da nossa perspectiva que ainda circula em proporções densas e bruscas. O que consola é tão somente a rendição ao universo etéreo e sensível de tudo o que toca o coração, de tudo o que vibra a alma e de tudo o que importa, seja qual for a história da subjetividade de cada um.
Luana Tavares
"... talvez até a eternidade a ela se renda". Fantástico, mais uma vez!
ResponderExcluirBeijo grande!
Mirella.