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sexta-feira, 30 de março de 2012

Sobre ausências e atalhos


A angústia é a disposição fundamental que nos coloca ante o nada.” (Martin Heidegger)



Às vezes, o olhar se distancia como se quisesse alcançar o que já não está mais ao alcance das mãos da alma. Porque sentir e tratar de ausências, num sentido que mais se refere como confirmação de uma presença, é como ter as entranhas se rasgando na tentativa desesperada de buscar uma completude que não se encontra mais lá, onde sentimentos não contaminados ainda tentam sobreviver. A ausência é a própria presença do vazio que preenche uma dimensão ainda desconhecida, ainda não descoberta.
Nos vácuos deixados por quem está longe, poucos sentires consolam. Como se andanças percorridas na imensidão de um espaço ainda não desbravado se esvaíssem como brisas efêmeras e descoloridas num devaneio que, em vão, tenta se justificar. Em função de um desejo, trilhamos estradas na intenção de um porvir, de uma esperança que insiste em não se esvair. Não se esvai porque, para muitos, deixar partir também é demonstrar afeto, mas um que dilacera o peito e, assim, a esperança o consome.

A busca por sonhos perdidos ou ausentes se torna algo estranhamente distante, provavelmente por antever tudo o que jamais será encontrado. Momentos assim lembram que há alguns esforços e empenhos que não conseguem se concretizar, ainda que mergulhem profundamente em seus anseios mais fortes e ocultos. Não se concretizam simplesmente porque não é mais possível; porque não basta querer e sim entender que alguns fins são necessários. Há momentos em que apenas a inexorável e determinada atitude da vida – por si mesma – permanece. E ela, a vida, não costuma dar lugar a vontades carentes de poder. Porque a vida encontra seu modo de existir, mesmo que descrentes horizontes atravessem seu caminho.
Feliz de tudo que deixa saudade... sua essência continuará a transitar entre os sentidos da terra, através da sutileza dos ares, pela insistência das águas e pelo inebriante calor do fogo. Mas principalmente através da presença sutil das lembranças e percepções que não se esgotam. E as lembranças reavivam sonhos...
E os sonhos insistem em resgatar as ausências presentes na alma, mesmo que à custa da sanidade perdida, indicando que o sofrimento por perdas compromete a própria percepção da realidade. É que os sonhos não se ausentam tão facilmente e insistem em se atualizar, mesmo que nos caminhos cobertos do pó da existência ou na matéria viva que aninha desejos. Ou na imersão de lugares distantes onde flutuam os delírios, as aberturas improváveis ou os abismos impenetráveis. E a lembrança, atenta às infinitas variedades subjetivas, espreita as opções possíveis, na tentativa de se fazer perceber, de atender às esperanças que acalentam nossos sonhos, ao alcance de um beijo, um gesto, um toque ou de uma distância entrecortada de certezas.


Nas ausências, há impressões que extravasam as comportas da alma, vazando por entre as fendas e precipícios da existência. Vão se infiltrando como água e trevas nas veias abertas dos intensos espaços da esperança, resvalando por entre pedras de tristezas e orifícios de saudades.
E muitas vezes não percebemos que os mesmos sonhos podem estar próximos, tão perto que nem conseguimos perceber ou distinguir, como se o sentido mais precioso e sagrado não fosse capaz de suportar a totalidade de seu significado. Os sonhos podem ser algo tão intrinsecamente belos, reais, sempre capazes de devolver a percepção, ainda que no absurdo atalho da existência.


Quanto aos atalhos, ainda que forçados, conferem a permissão necessária aos jardins da alma – mesmo que esta esteja fortemente protegida por ofuscantes armaduras – e indicam como podem os sonhos ser (re)descobertos, transferindo a busca para algum lugar indecifrável... enigmático, onde as ninfas, os elfos, as fadas e as bruxas de cada singularidade se encontram e se permitam dançar como se não houvesse amanhã... ontem... nunca... sempre. Atalhos de onde partem as essências que perfumam caminhos e consolam ausências.

Luana Tavares

2 comentários:

  1. Nenhuma ausência é eterna. Estamos aqui de passagem (desculpe a frase tão clichê!), mas é a realidade. Em breve, quando nenhum de nós sabe, o vazio estará preenchido e não existirá mais ausência. Tal pensamento, por si só, já nos conforta muito, não?
    Quanto aos atalhos, muitas vezes, tornam-se nossas vias principais, e descobrimos outras facetas de nós mesmos. Aí está o grande barato dessa imensa e rica viagem que é nossa vida na terra!

    Beijo carinhoso!

    Mirella.

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    Respostas
    1. Oi Mirella!
      Sim, sempre podemos resgatar ausências ou sentimentos presentes... e isto torna a vida mais rica e significativa... seja através de atalhos ou não!
      Obrigada, querida!
      Beijos da Lua

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