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sexta-feira, 12 de março de 2021

Da minha singularidade para a sua

 



Entre o que eu penso, o que quero dizer, o que eu digo e o que você ouve, o que você quer ouvir e o que você acha que entendeu, há um abismo

Alejandro Jodorowsky

 

De tudo o que sou (ou intenciono, imagino, pretendo ser) para o que você é (ou que,  igualmente, intenciona, imagina, pretende ser), existe como que uma teia que nos envolve, nos enreda e nos impulsiona nos infinitos eventos de relação, em que interagimos num vai e vem constante de possibilidades e caos. Em muitos desses eventos, estamos sensorialmente próximos; em muitos, abstratamente distantes. Eventualmente, nos posicionamos de forma sutil, evasiva, fluida, mas, ainda assim, não perdemos contato. Este evento, entretanto, pode se dar por múltiplas e sofisticadas formas de interação, nem sempre reconhecidas ou estabelecidas em nossa grade de pensamentos e percepções.

De onde estou, posso fechar os olhos e, de alguma forma, sentir o outro que me acompanha na jornada da vida, nos caminhos entremeados de incertezas, estreitezas e amplitudes, nos caminhos singulares em cada instante e em cada esquina, nos caminhos que se confundem, se entrelaçam e se afastam, como cadeias de presenças e ausências expressas no caos da vida. Não se enganem, porém: o caos é repleto de tudo o que se supõe existir…; o caos é a própria vida e além dela. Nele coexistem as singularidades que transitam pelo éter da existência e habitam mundos, numa babel resiliente a tudo que a confronta.

Seguimos inconformados com a inércia, numa busca pelo que se apresenta, pelo que nos consome. Não hesitamos em esticar as mãos para alcançar aquilo que nem sequer sabemos ao certo do que se trata. Mas seguimos. E, às vezes, as nossas singularidades, numa dessas interseções que se cruzam, esbarram em questões que nos escapam ou em outras singularidades ainda mais singulares, daquelas que nos obrigam a parar e rever nosso mundo,  o que acreditamos e para onde vamos. Nestes instantes mágicos, a cadeia da vida suspende o tempo, que para, num contínuo êxtase, para contemplar o vazio repleto de seus próprios significados. Meu olhar singular se volta na busca do entendimento por esse outro para captar seus dizeres e anseios, seus temas e discursos. Enfim, não para exatamente entender o que se passa no outro ser que contemplo, mas para entender o que se passa em mim, no meu próprio universo.

Na minha singularidade, me confronto e me conformo com a sua, na busca pelo que nos proporciona aquele quê de luz, de insight, de magia…, dançando nas nossas espacialidades invertidas, buscando encontrar o mundo um do outro, sem nos ater a padrões ou armadilhas, livres para experimentarmos o doce sabor da insensatez e da loucura ou seja lá do que for. Na realidade (ou fora dela), não há sentido em cantar canções dissonantes que nos machucam, não há sentido em responder ao que não nos diz respeito. Aliás, respeito parece ser apenas o que importa nisso tudo. Respeito a mim, ao outro, ao que sei e ao que não sei; respeito pelo que quero, desejo, assumo, assim como você; respeito à sua coerência e à minha incoerência e vice versa; respeito ao que não me diz respeito, ao que não quero saber e ao que realmente não somos obrigados a tal. O mundo circula e apenas acompanhamos, com olhares e inquietudes sonhadoras, certos de que não faz muita diferença para as continuidades existenciais o que sentimos e pensamos.

Só o que importa é o agora, o olhar e o toque que compartilhamos, da minha singularidade para a sua. Não importa o tempo que flui, apenas o que trocamos em direção às nossas emoções e a nossos saberes de existência. Se nos perdermos, saberemos o caminho de volta. E, se o caos se avolumar à nossa volta, saberemos que, em algum momento, o mundo parou para nos encontrarmos. E isso basta, talvez pela eternidade.

Luana Tavares (março/21)

 

 


8 comentários:

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    1. Querido Paulo, agradeço o carinho. Este pequeno texto foi um retorno... fico feliz que tenha me visitado aqui e espero que volte sempre. Grande abraço!

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  2. Respostas
    1. Oi, tudo bem?
      Seu nome não aparece para mim, mas estou feliz com sua visita.
      Inscreva-se no blog... adoraria que se tornasse um/a 'Amigo/a da Lua'.
      Beijos e obrigada!

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  3. Querida, Luana! Lindo! Faço coro com o Paulo: "Prosa poética viva-vivida..."
    Bjs!

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    1. Val, sua amizade a torna suspeita...rsrs. Agradeço, querida! Beijos da Lua!

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  4. Adorei! Suas habilidades para se expressar são impressionantes.

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    1. Querida, agradeço o carinho. Fico muito feliz com esse retorno. Beijos!

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