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sábado, 25 de fevereiro de 2012

Delírios na multidão indecisa


E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música.”  (Friedrich Nietzsche)



Na estrada adiante, a caminho de um destino qualquer, no meio da multidão que transforma todos em uma unidade festiva, sem rosto, sem corpo, ou melhor, com o corpo de todos, na expectativa de encontrar algo que não se sabe, ponderamos se o que existe atrás das infindáveis e ininterruptas respirações suspensas, reproduz a eternidade. Estamos todos a caminho do mesmo buraco negro existencial, para onde tudo converge, para onde a ausência de luz é justamente o prenúncio da clarividência.

Mas mesmo em meio ao jorro da luz do dia, ou no manto escuro e silencioso da noite, sem noção de tempo ou espaço, entre o limiar do que pode ser estar em cima ou abaixo, os pés deslizam...  suaves no imaginário dos seus próprios significados, pouco importando para qual direção, pois nenhuma seria suficientemente justa para determinar seus horizontes.

E a multidão acompanha, ainda incerta de suas certezas, levadas por uma força que escapa ao entendimento entre tocar e sentir, entre ouvir e escutar, entre olhar e realmente enxergar, enfim, entre viver e existir.

Talvez nada importe tanto quanto o encontro com o que não ainda não conhecemos ou mesmo pressentimos. Nem mesmo levantar o olhar, pois que a multidão, ainda que levada por seu impulso de seguir em frente, um dia, a qualquer momento, vai esbarrar, surpresa, no seu próprio propósito, que pode ou não coincidir com o de cada um; pode ou não conferir uma tradução a tudo o que se espera do próximo passo. Vai acontecer, mesmo que não se saiba quando... nem onde... nem como.

Mas afinal, para que estamos aqui? Por que nos defrontamos tão intensamente com nossos dilemas existenciais? Por que às vezes temos a sensação de conhecer aquele rosto enigmático que nos observa a cada vez que nos refletimos no espelho? De quem se trata, afinal? A sensação de saber de quem se trata perdura por, talvez, alguns milésimos de segundo... daí em diante é pura especulação, puro delírio. E tomar as rédeas desse delírio não cabe aos que ainda não se rasgaram ou não se desnudaram diante do espelho. O despertar apenas pertence a quem ousa.

Ainda assim, talvez continue a não fazer muita diferença sobre o que, como ou quando filosofamos ou intuímos a vida, pois que o movimento não cessa, desfrutemos nós de profundos debates ou apenas surfemos na superfície do lago. Tudo terá um tempo... e este, obedecendo ou não à cadência da multidão, estabelece pontos de singularidade de onde cada um emerge, de onde cada um transpira, vazando emoção pelos poros que deixam escapar a essência divina de cada um.

Mas as múltiplas percepções dos universos paralelos, que se equilibram entre a razão e a loucura, não são atributos apenas dos que não compactuam com a nossa lógica – embora para estes lidar com qualquer lógica alternativa seja bem mais fácil, pois seguem seu curso normal, sem envolvimento com a multidão, sem nenhuma pressão a não ser a de seu âmago –; talvez elas pertençam a quem se dispõe a desviar o olhar, pois esbarrar no próprio propósito e ainda contemplar a beleza do instante, deve ser simplesmente incomparável.

Luana Tavares

2 comentários:

  1. Lua, o texto é lindo...
    Falar de multidão...Bem apropriado para esse tempo de pós-carnaval...
    Nessa época vemos multidões se aglomerando na busca de alegria, prazer, esquecimento das tristezas...Busca-se muito, na ânsia de achar aquilo que nem sabemos que procuramos...
    Depende muito de nosso estado de espírito, como estamos com nossos pensamentos e sentimentos.
    Podemos nos deixar levar pela "onda" da multidão, ou sermos apenas nós, olhando a multidão passar...
    Bjos, querida!!

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    Respostas
    1. Querida, creio que importa refletir sobre o que realmente almejamos... fazer parte da multidão implica em compreensão e tolerância, especialmente se entendemos o brilho da nossa própria singularidade!
      Beijos e obrigada pelo carinho de sempre!
      Lua

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